sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Gata de telhado

Pensar em você me tira a calma
Meu sono se dissipa
só o desejo é que fica
sou uma gata de telhado
vadia
sem dono
arredia
mas sou grata à quem me alimenta
bebo do teu leite
te retribuo com mel
não tenho coleira
nem cama feita
apenas me demoro
onde você me deita
sem sono vou pro telhado
me estico, me esgueiro
me abro
me lambo
a espera do meu dono
casual
temporário
o tempo necessário
pra ganhar uns afagos
arranhar
lamber
me esfregar
e ganhar novamente o telhado
Enquanto ele não vem
ensaio artimanhas
observo aranhas
tecendo
as teias
A pernadas
imito
me estico
me abro
dedilho minha teia
preparo minha rede
destilo
o mel
meu dono chega
conheço seu cheiro
preparo a teia
da aranha
façanha
de gata arteira
ofereço
entrego
enredo
agora está pego
vem dedilhar na teia
vem buscar o mel
meu gato
manhoso
meloso
safado
mergulha no pote
passa o dedo
enfia a língua
lambe
devora
abocanha
se farta
só falta pagar a oferta
a paga é certa
no gargalo
sugo
chupo
busco
meu leite
abro o pote
meto dentro
o frasco precioso
do líquido gostoso
que me alimenta
e me faz
obediente
me sacio
arrepio
gemidos e ruídos
de agradecimento
lambo as sobras
faço uma graça
e volto
pro telhado
vadia e sem dono
até o próximo
sono!

Mônica Santos






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